quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Olhares do quotidiano

A irmandade do cigarro

                 Esgotado por uma incursão natalícia a um centro comercial, esgueirei-me, entre compras, para um descansado cigarro. Resmungando pensamentos saturados de lojas, compras e saldos, dirigi-me a um desses espaços para onde os fumadores são empurrados, de modo a espiarem o seu pecado e a manterem limpa a azáfama consumista. Enquanto fumava, procurando um momento de sossego, acercou-se um homem de 50 anos de vida cansada e amarrotada. Pediu licença e, num olhar cabisbaixo, iniciou a colheita das beatas plantadas no cinzeiro, escolhendo-as num cuidado de filigrana. Ofereci-lhe um cigarro e do seu rosto de olhos e barba saiu um obrigado fraterno que só os fumadores compreendem. Afastou-se num caminhar lento e curvado, respigando outros cinzeiros repletos de cigarros apressados.
                Saúde, irmão!
João M

Sem comentários:

Enviar um comentário