Esgotado por uma incursão
natalícia a um centro comercial, esgueirei-me, entre compras, para um
descansado cigarro. Resmungando pensamentos saturados de lojas, compras e
saldos, dirigi-me a um desses espaços para onde os fumadores são empurrados, de
modo a espiarem o seu pecado e a manterem limpa a azáfama consumista. Enquanto
fumava, procurando um momento de sossego, acercou-se um homem de 50 anos de
vida cansada e amarrotada. Pediu licença e, num olhar cabisbaixo, iniciou a colheita
das beatas plantadas no cinzeiro, escolhendo-as num cuidado de filigrana.
Ofereci-lhe um cigarro e do seu rosto de olhos e barba saiu um obrigado fraterno
que só os fumadores compreendem. Afastou-se num caminhar lento e curvado, respigando
outros cinzeiros repletos de cigarros apressados.
Saúde, irmão!
João M
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