quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Da democracia

A democracia é a mais frágil forma dos regimes políticos. Tratada com desleixo, facilmente entra em declínio e dará lugar a formas de governo autocráticas. A recente queda de Silvio Berlusconi levanta, paradoxalmente, um problema para a democracia que urge reflectir. Quero deixar bem claro que não nutro qualquer simpatia pela figura do ex-primeiro-ministro italiano, mas considero extremamente perigoso que os mercados consigam aquilo que a ética e os valores fundamentais da democracia não conseguiram. Berlusconi resistiu a diversos escândalos, passando por eles de um modo quase incólume, do ponto de vista político. Não resistiu, porém, à pressão dos mercados. Um a um, vemos governantes eleitos de modo democrático a caírem perante as exigências financeiras. Sócrates, Papandreou, Berlusconi são nomes de uma lista a que brevemente outros se juntarão. Independentemente das ideias, dos projectos ou dos valores apresentados ao eleitorado, é o poder financeiro que, em última instância, acaba por determinar os destinos de um país. A legitimidade democrática, expressa no sufrágio universal, está a ser gradualmente substituída pela vontade das praças financeiras, o que levanta um sério problema político. Se a vontade dos povos deixa de ser soberana, o que vai legitimar as decisões de um governo? Estando a legitimidade democrática afastada, qual o fundamento que legitima o exercício do poder? Como enquadrar a contestação, por mais violenta que se seja, se o pacto fundamental foi quebrado?
Estará a democracia irremediavelmente condenada a sucumbir perante este Zeitgeist? Vivemos na época de todos os perigos.

João M

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