segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Obrigado, Steve.

A morte de Steve Jobs motivou os mais diversos comentários. Da consternação à indiferença assistiu-se a um pouco de tudo. Mas o mais difícil de compreender foi a verborreia cega e ideológica. Que Jobs tinha um feitio irascível, que cometeu muitos erros, que era obstinado e ditatorial no que diz respeito à produção dos seus produtos, tudo isso é verdade. Mas daí a apresentá-lo como uma figura negra do capitalismo e a torná-lo culpado de todos os problemas do mundo é manifestamente excessivo.
Steve Jobs ambicionava a perfeição. Tinha uma enorme paixão pela inovação e era genial naquilo que concebia. Os produtos da Apple são surpreendentes, proporcionando aos seus utilizadores uma experiência única. Mais do que um equipamento, os utilizadores Apple compram uma experiência ímpar de funcionalidade e design que tem início no preciso momento da abertura da caixa.
Não idolatro Steve Jobs nem o considero um deus. Mas é óbvio que o mundo da tecnologia não será o mesmo sem a sua capacidade de inovação. Steve Jobs é insubstituível.

JM

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um ministro com boas ideias e ainda por cima simpático

São por demais conhecidas as críticas de Nuno Crato em relação ao eduquês à pedagogia romântica, ideologias responsáveis pelo descaminho por onde se enredou o ensino em Portugal nos últimos 30 anos. Em Algumas ideias dominantes na educação em Portugal (2010), o mais mediático matemático da actualidade exibe as 3 ideias erradas que dominaram o ensino em Portugal, a saber: que o estudo e a escola assentam na motivação; que o propósito do ensino é a compreensão crítica das matérias; e que as vivências e o meio cultural dos estudantes devem nortear o ensino. Já no seu livro de estreia em matéria de educação, O ‘eduquês’ em discurso directo (2006), verberava estes e outros preconceitos pedagógicos, mas ia mais longe: apontava ideias e definia um caminho para aquilo “que se deve adoptar na educação”. O rumo devia ser traçado sobre dois vectores: “o ensino não precisa de reformulações drásticas nem de reviravoltas pedagógicas revolucionárias” e “é preciso centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço”.
Se o actual ministro da educação vai conseguir implementar, sem revoluções pedagógicas ou outras, algumas das suas ideias, eis uma questão que no futuro se verificará. Para já, o ciclo económico recessivo não lhe é favorável. Mas como ele próprio afirmou nos écrans de televisão: é preciso fazer mais e melhor com menos. Uma coisa é certa: não se fazem omeletas sem ovos. Com menos dinheiro formar mais e melhores professores e avaliar mais e melhor os docentes e os alunos, não é tarefa fácil. O problema reside na capacidade de “centrar forças”, isto é, congregar as energias de um sistema que se tem revelado entrópico. Também será decisivo estabelecer, com critério, currículos essenciais, e definir, de modo rigoroso e exigente, metas de aprendizagem. No que diz respeito “à valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço”, não me parece que isso esteja ao alcance de qualquer equipa ministerial. Os valores de uma sociedade não se impõem por decreto. Dependem das grandes narrativas que dão sentido ao mundo, ou como afirma Neil Postman (O fim da educação, 1995): “da existência de narrativas partilhadas e da capacidade de tais narrativas nos darem uma razão inspirada para o ensino”. Todavia, a narrativa educativa dominante, escorada no pressuposto sociológico da desresponsabilização pessoal, é filha de um deus maior, o deus do consumismo, que promete a felicidade imediata e desvaloriza o conhecimento, a disciplina e o esforço. É capaz Nuno Crato afrontar esse deus maior, sem cair em desgraça? Tomara que sim, pois como dizia a minha vizinha em conversa de ocasião: trata-se de um ministro com boas ideias e ainda por cima simpático. Eu acredito em algumas delas, como esta: “A escola ainda não está a ser um garante da igualdade de oportunidades porque, em muitos casos, se desiste dos alunos mais mal preparados e porque se tem tomado, em muitos casos, a atitude de baixar os braços e não ser exigente, pensando que a exigência vai prejudicar os pobres, quando no fundo é exactamente o contrário – vai dar mais oportunidades aos pobres.” (Expresso, Única, 3/9/2011)
José M.