quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Impressões de leitura

Uma hora e meia, com curtos intervalos para fumar dois cigarros, beber um café e uns tragos de um whisky novo servido generosamente. Foi o tempo que levou a lê-lo. O título do livro é sugestivo, ajustado aos dias que correm: “Falidos!” Igualmente sugestivo é o preço – 5 euros e pico. O autor, anónimo, francês, exilado numa aldeia situada nas margens do delta do Mekong, no longínquo Vietnam, foi um “cidadão comum” e “profissional liberal”, fez parte dessa massa imensa de indivíduos que constituem a classe média europeia. Embalou, como todos nós, na ilusão criada por essa máquina de vender sonhos a crédito, que alguns classificam de capitalismo financeiro, enquanto outros designam por capitalismo selvagem. O autor apelida de “pornografia financeira” à engenharia social subjacente à lógica deste capitalismo, que visa transformar cidadãos livres em sujeitos alienados pela escravidão do consumo e do endividamento.          
Não se tratará de um livro de grande fôlego intelectual, concedo. É antes um livro escrito por alguém que presta um testemunho vívido de um trajecto de desilusão e que reflecte sobre as razões da nossa falência individual e colectiva. Para além disso, ousa propor-nos uma marcha de subversão, assente numa lógica capaz de inverter a lógica do credo consumista. Essa marcha não se queda na indignação. Vai para lá dela. Consubstancia-se numa revolta armada. As armas são quatro e “podem ser usadas de forma concertada (…): uma poupança solidária e saudável, a recusa de contrair empréstimos num contexto ignóbil, a inteligência de uma sobriedade respeitável e a previsão lúcida e pragmática do que serão os nossos recursos amanhã, em 2050, com 9 mil milhões de seres na Terra.”             
No prefácio, escrito pelo Frei Bento Domingues, o incitamento à revolta tem diferente roupagem linguística: “Façamos (…) objecção de consciência à economia financeira e procuremos promover uma economia política, aquela que põe no centro a responsabilidade do cidadão, a dignidade da pessoa humana – que nunca pode ser um meio –, a construção de um mundo mais justo, a busca do bem comum.” No princípio era o verbo. Agora é tempo de acção.
















Editor: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-04359-7
Edição: Julho de julho de 2011
Páginas: 62

José M.

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